De porta aberta, Rueda se multiplica para tentar salvar Santos de “monstro” e melhorar futebol

Rueda

Porta aberta. Esse vem sendo o lema de Andres Rueda na presidência do Santos. O mandatário assumiu o clube no início de 2021 e, desde então, vem tentando apagar o fogo que ronda a Vila Belmiro.

Para melhorar a situação do Peixe, que brigou contra o rebaixamento nas últimas duas edições do Campeonato Paulista, o dirigente vem passando boa parte do seu dia no CT Rei Pelé.

E engana-se quem pensa que Rueda fica fechado em sua sala. Ao entrar nas dependências santistas, lá está ele, sentado em sua cadeira. Apesar das inúmeras pendências que tem a resolver, a porta do cômodo está sempre aberta para os funcionários.

Em entrevista exclusiva para a Gazeta Esportiva, o presidente destacou que esse é um gesto para mostrar que ele é “apenas” mais um entre os diversos colaboradores do clube.

“Na Vila também é assim. Temos um escritório lá e também fica com a porta aberta. O presidente é mais um colaborador do clube que simplesmente é o que leva a responsabilidade, tudo de bom e de ruim que tem. Isso é o simbolismo, onde eu quero dizer para os nossos colaboradores que o presidente é igual, para que eles entrem e discutam o que quiserem. Serão bem-recebidos”, declarou.

Rueda vem sendo o grande líder do Santos nesses últimos meses. Além das questões extracampo, o mandatário também é o responsável por gerir o elenco e a comissão. Na teoria, esse papel de levar as informações do campo para a diretoria, e vice-versa, era para ser de Newton Drummond. O dirigente, no entanto, foi demitido no último dia 18.

Agora, sem um executivo de futebol, o presidente se multiplica para cobrir todas as necessidades do Alvinegro Praiano. E a tendência é que ele não contrate ninguém para o cargo, pelo menos até o final do ano.

“A gente sempre se preocupou em criar processos de gestão, tanto na parte administrativa e financeira, quanto no futebol. O futebol tem processos. A parte de logística independe do diretor e do gerente de futebol. Você tem um departamento encarregado disso que funciona independente do diretor que está utilizando a cadeira. Você tem uma área jurídica que dá todo apoio com contratos e contratações; temos sistemas de controles; eu sou avisado pelo celular quando vai vencer o contrato, ou seja, eu tenho como tomar ações em cima disso. A única grande força do diretor é dar suporte na área técnica e contratar jogadores”, iniciou sobre o assunto.

“Era uma coisa planejada (passar bastante tempo no CT). A situação do clube, financeiramente, era bem precária, muito preocupante. Montamos um planejamento que previa para o primeiro ano um foco financeiro. Tinha que ser isso. Era uma questão de sobrevivência. Dentro do planejamento, depois desse um ano e meio, a coisa já está mais encaminhada, a dívida mais administrável e o pessoal do administrativo já entende como gostamos de trabalhar. Já estava previsto que depois de um ano e meio a gente começaria a ter um trabalho direito junto no futebol. É o que estamos fazendo. Estamos direto com os jogadores, comissão técnica… E é bom isso. É bom para a equipe e para o treinador. Não tem intermediário. Conversamos várias vezes por dia. As coisas estão fluindo bem melhor”, complementou.

Sonhos de Rueda

O mandato de Rueda termina em dezembro de 2023. Sem pretensão de se candidatar à reeleição, o presidente ainda busca concretizar algumas metas antes de entregar o cargo.

O principal sonho do dirigente é melhorar a situação financeira do clube. Ele assumiu o Santos com cerca de R$ 800 milhões de déficit. Um ano e meio depois, ele conseguiu abaixar esse valor para aproximadamente metade disso, conforme revelado pelo próprio mandatário.

“A primeira coisa é deixar essa dívida, que é um monstro que rodeava o clube, completamente organizada. Deixar uma dívida dentro de um padrão normal para o mundo do futebol, onde despesa e receita correntes se encontrem. Quando isso não acontece, a tendência do clube é sempre se endividar e chegar em situações insuportáveis. Infelizmente era a situação do Santos. A gente pretende, no final da gestão, ter uma situação financeira equilibrada, com as dívidas, se não pagas, todas acordadas, com condições de serem pagas. Isso vai trazer uma tranquilidade para as próximas gestões investirem mais no futebol”, comentou.

Rueda também pretende fazer o Santos crescer em patrimônio. Para isso, ele busca melhorar a estrutura do Centro de Treinamentos do time feminino e das categorias de base. Além disso, a ideia é deixar um time competitivo para a próxima gestão.

Visando concretizar esse sonho o quanto antes, o mandatário foi ao mercado da bola nesta janela de transferências para reforçar o grupo. Ao todo, quatro nomes chegaram: o lateral direito Nathan, os meio-campistas Gabriel Carabajal e Luan e o atacante Yeferson Soteldo.

“O fato de ser um time competitivo ou não é planejamento a médio prazo. Você não transforma um time da noite para o dia. A gente já começou o planejamento para 2023. Acabamos de fazer aquisições de jogadores pensando em 2023. Na próxima janela, nós queremos encorpar nosso time. A próxima gestão vai ter condições, com toda certeza, de melhorar nosso time cada vez mais”, declarou.

Como equilibrar a razão e a emoção?

Há um ano e meio na presidência do Santos, Rueda já teve que lidar com diversas crises no clube. Recentemente, por exemplo, o Peixe correu o risco de ser rebaixado no Campeonato Brasileiro e no Paulistão. Em meio a esse cenário, muitos torcedores protestaram contra a diretoria.

Um dos principais pedidos da torcida era a contratação de jogadores. Ciente da dificuldade financeira, Rueda vem sendo obrigado a se controlar para não deixar a emoção estragar o planejamento de recuperação do clube.

“É a pior situação de um dirigente no futebol (controlar a emoção). Você cometer erros é muito fácil. Sofrer pressão da torcida, de sócios, e conselho por falta de jogadores melhores tem em todos os clubes. A facilidade de sair da planilha e cometer erros é muito grande. Contratar um jogador pagando R$ 1,5 milhão por mês é muito fácil, o difícil é pagar. O Santos, infelizmente, passou por esse tipo de erro. A gente se propôs a não cometer esse erro de novo”, pontuou.

“A torcida tem todo direito de fazer isso (reclamar). A torcida não tem que estar preocupada se o clube tem ou não dinheiro. Ela quer o melhor para o clube e ver o time sempre ganhando. Não foi ela que colocou o clube nessa situação. Ela está certa. Então, eu entendo. O que me irrita um pouquinho é quando isso é utilizado na parte política do clube. Muitas vezes eu fico triste quando torcedores do Santos ficam ‘contentes’ quando time não vai bem e podem xingar. O grande segredo é ficar imune a essa pressão, focar na frente, entender a situação financeira do clube e saber que o que você está fazendo é para ter um clube com um futuro melhor”, finalizou.

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